EMPATIA - Isso não existe.
Me parece que há uma grande confusão quando falamos de empatia.
As pessoas tratam como se empatia fosse “sentir o que o outro sente”, e isso é impossível. Você nem sabe o que o outro sente. Não há mecanismo na humanidade capaz de dizer com precisão o que o outro está sentindo. E mesmo que você acertasse a nominalização (como raiva, tristeza, luto) não saberia quantos mililitros de hormônios e outras químicas foram despejados no organismo da outra pessoa para criar aquela emoção. E se soubesse não teria como despejar a mesma quantidade no seu corpo para sentir a mesma coisa…
Então o máximo que a gente consegue é supor o que o outro está sentindo. E isso é muito diferente de sentir o mesmo. Você acha que sabe o que o outro está sentindo, reproduz erroneamente a sensação e acaba se sentindo mal. Você criou sozinho uma sensação ruim, se sentiu triste e está achando isso super nobre…
Supor o que o outro está sentindo e reagir a isso costuma ser positivo. Tentar sentir o que o outro está sentindo costuma ser negativo. Perceber que alguém precisa de ajuda e ajudar é excelente. Mas sentir uma emoção ruim só porque parece uma atitude nobre não costuma ajudar em nada.
Você não tem ideia de quantos terapeutas me pedem ajuda por chegarem exaustos no fim do dia por conta da ideia equivocada de empatia. Eles dizem que se colocam no lugar do cliente. Isso é outra coisa impossível. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Cada um está no seu lugar. Você não consegue se colocar no lugar do outro. O máximo que consegue é supor como reagiria se estivesse passando pelas mesmas questões que a outra pessoa. Mas isso nada mais é do que uma alucinação, e é importante que esteja consciente disso. Você alucina como seria se estivesse no lugar do outro, mas todas as sensações são suas, imaginadas por você e sentidas por você. Aí o terapeuta fica se imaginando passando por tudo aquilo que o cliente está passando e no fim do dia estão os dois depressivos, o cliente e o terapeuta. Conheço pelo menos um caso onde o terapeuta desistiu da profissão só por conta desse uso da ideia de empatia. Bom, pra mim, essa empatia só serve pra você se sentir mal sem resultado nenhum. O cliente conta que seu filho está em estado terminal no hospital, e aí você pensa como seria se fosse o seu filho. E agora estão os dois chorando na sessão. Que utilidade teve pensar isso?
“Ah, mas pra ajudar o outro você precisa se colocar no lugar dele.” Não fale bobagens! Analisar a situação e propor opções é muito diferente de se colocar no lugar do outro. Se você for tirar uma pessoa de um buraco fundo, vai se jogar lá dentro pra poder se colocar no lugar dela? Isso não faz sentido algum. Tirar uma pessoa do fundo do poço não requer que você imagine como é estar no fundo do poço, basta jogar uma corda.
Outra questão importante: imaginar como a pessoa está se sentindo não é a mesma coisa que sentir o que ela está sentindo. Imaginar pelo que ela está passando não é o mesmo que imaginar como seria se fosse com você! Se você analisar como ela está se sentindo e o que ela está passando neste momento, não precisará sentir nada triste e ainda assim será capaz de ajudar imensamente. Uma pessoa sofrendo já é suficientemente ruim.
Então minha sugestão é a seguinte: esquece esse papo de empatia, porque essa empatia pregada aí nem existe. E evite imaginar como seria se fosse com você, porque serão duas pessoas se sentindo mal. Ao invés disso, imagine como a outra pessoa está se sentindo, mas não reproduza essa sensação em si mesmo. Recrie o cenário em sua mente, mas se mantenha fora da situação, não imagine como se fosse com você. Não se coloque na cena. Apenas visualize a pessoa e tudo o que ela estiver passando. Se você se compadecer, será uma sensação verdadeira, baseada no que você acha da situação em si, e não uma sensação emulada e falsa por acreditar que tem que sentir o que o outro sente.
Entender como uma pessoa chegou no fundo do poço e atuar para tirá-la de lá nada tem a ver com sentir o que ela sente, mas sim em saber o que deve ser feito.
De resto, como a nossa sociedade ainda preza por esse tipo de empatia, finja que está sendo empático. A pessoa ficará satisfeita, você não será mais um sentindo tristeza e resolverá da mesma forma. Todos saem ganhando.
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